Cirurgia Bariátrica em idosos

Postado por Suzanclin em 27/set/2021 - Sem Comentários

Hoje em homenagem ao dia nacional do idoso e da terceira idade, viemos falar um pouco sobre a obesidade em pessoas idosas. Conheça alguns dados interessantes e também quais critérios necessários a realização da cirurgia bariátrica em idosos.

Obesidade x Terceira Idade

  • Em 2015, nos EUA, um estudo realizado demonstrou que na faixa de 60 a 69 anos, 42,5% das mulheres e 38,1% dos homens eram obesos. Já entre 70 e 79 anos, 31,9% das mulheres e 28,9% dos homens encontravam-se nesta condição;
  • No Brasil, em pessoas acima de 65 anos a prevalência de obesidade era de 8,7% entre os homens e de 16,1% entre as mulheres;
  • Em 2018, a prevalência de obesidade tem aumentando progressivamente (mesmo entre a população mais velha). Houve aumento de 67,8% nos últimos treze anos, saindo de 11,8% em 2006 para 19,8% em 2018;
  • A expectativa de vida tem aumentado gradativamente e muda muito dependendo da região onde a pessoa mora. Em Santa Catarina, por exemplo, a expectativa de vida é 79 anos e em outros estados é 72. Então, fazer a cirurgia com 60 anos ou mais pode significar viver mais e melhor

Cirurgia Bariátrica em idosos
Já dissemos que o assunto abordado hoje será a cirurgia bariátrica em idosos.
Para começar, quem são considerados esses pacientes idosos? Bom, é importante ressaltar que a cirurgia bariátrica é indicada para pacientes com índice de massa corporal (IMC) maior que 35 kg/m2 que tenham complicações como síndrome da apneia do sono (SAOS), hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes melito (DM), dislipidemia e doenças articulares degenerativas e para pacientes com IMC maior ou igual a 40 kg/m2 que não tenham obtido sucesso na perda de peso após dois anos de tratamento clínico.

No caso de pacientes idosos (acima de 65 anos de idade), o critério é o mesmo que o para pacientes jovens, porém que depois dessa idade os riscos aumentam devido à defesa do organismo do paciente (pior nessa idade) e também com a tendência natural que o paciente tem de perder massa magra, após realizar a cirurgia bariátrica essa perda se torna maior ainda. Isso mostra a importância do acompanhamento nutricional sério desenvolvido com o paciente.

Não existe limite de idade para realizar a cirurgia bariátrica?
Na teoria não existe uma data limite para a cirurgia, o que existe é um consenso entre os profissionais de que os pacientes com mais de 65 anos devem ser avaliados com mais cuidado que os outros pacientes mais jovens. Nessa idade, o paciente começa a passar por um certo declínio funcional, esse faz com que o número de doenças comece a aumentar com frequência, isso pode vir a dificultar qualquer procedimento cirúrgico.

O que é avaliado?
Além de avaliar se o paciente consegue passar por um procedimento cirúrgico seguro, é avaliado o benefício dessa cirurgia (uma vez que o ser humano possui uma expectativa de vida). A avaliação da qualidade óssea também é necessária, principalmente em mulheres. Portanto, vale a pena realizar a cirurgia visto o tempo que o paciente terá de vida (sem os sintomas que tinha), o tempo de recuperação cirúrgica e o risco de realizar um procedimento cirúrgico em uma pessoa com mais de 65 anos.

O paciente realizará qual método cirúrgico?
As técnicas cirúrgicas escolhidas devem ser as que apresentam a menor redução na capacidade de absorção dos alimentos, lembrando sempre que a ingestão de proteínas e de vitaminas é indicada para todos os pacientes bariátricos.

Um estudo publicado no periódico Obesity Surgery que teve como objetivo avaliar os resultados da cirurgia bariátrica em pacientes idosos mostrou que em um total de 23 pacientes com idade média de 72 anos (faixa de 70 a 80 anos) e IMC médio de 43,3 (faixa de 37,3 a 56,0), a média de 1 ano de perda total de peso foi de 29%, e isso foi mantido nos acompanhamentos posteriores. O percentual de perda de peso excedente em 1 ano foi de 60%, mantido a longo prazo em 61%.

O estudo concluiu que o procedimento RYGB laparoscópico é um tratamento seguro e eficaz para a obesidade e comorbidades relacionadas a mesma em idosos com idade ≥ 70 anos. Outro estudo deles, teve como objetivo realizar uma revisão sistemática e metanálise para avaliar se em pacientes idosos que necessitam de cirurgia bariátrica, a Sleeve é melhor que RYGB em termos de segurança, perda de peso e controle de comorbidades.

Esta metanálise envolveu dezenove estudos. As pesquisas mostram que as taxas de complicações precoces e tardias no RYGB foram muito mais altas do que aqueles na Sleeve. Porém o RYGB foi melhor que o Sleeve em termos de remissão da hipertensão arterial e o resultado da perda de peso após 1 ano, enquanto não houve diferenças em termos de remissão do diabetes tipo 2 e apneia obstrutiva do sono, bem como perda de peso durante 2 e 3 anos de acompanhamento.

O estudo concluiu que o Sleeve pode ser melhor opção que o RYGB para pacientes idosos, mesmo demonstrando ser inferior ao RYGB em termos de eficácia, é mais seguro que o RYGB, pois obteve menos complicações precoces e tardias, menor taxa de readmissão, taxa de reoperação e mortalidade em 30 dias.

Agora que sabemos a idade para realizar o procedimento, seu risco e os métodos, qual a eficácia da cirurgia em pacientes idosos?

Sabemos que as incidências de hipertensão, diabetes e síndrome metabólica estão positivamente correlacionados com idade e índice de massa corporal (IMC). A cirurgia bariátrica é a única opção de tratamento com perda de peso sustentável e resolução de propostas entre pacientes com obesidade mórbida. Entre todos pacientes com obesidade mórbida, os idosos apresentam um desafio de tratamento para cirurgiões bariátricos.

Apesar de estudos citarem que a morbimortalidade (taxa de mortalidade e morbilidade) é maior nos com mais de 65 anos, as evidências mostram que entre 60 e 65 anos pode ser realizada operação com morbimortalidade igual aos mais jovens. Os com mais de 65 anos, estes sim, devem ser avaliados clinicamente ainda com maior cuidado, verificando-se o real risco/ benefício da operação. A melhor performance com as técnicas operatórias e manejo perioperatórios levou à diminuição da morbimortalidade. O bypass gastrojejunal em Y-de-Roux é o procedimento mais realizado, proporcionando perda de peso significativa e sustentada em longo prazo. Vários investigadores publicaram seus bons resultados em relação à segurança e eficácia nos mais velhos. A gastrectomia vertical evoluiu consideravelmente desde a sua introdução inicial como operação preliminar, e hoje como operação definitiva em pacientes de alto risco. Tem em sua técnica a vantagem de manter o trânsito duodenal, o que é benéfico para pacientes idosos que não teriam os inconvenientes de disabsorção que ocorre no bypass em Y-de-Roux.

Para finalizar, é importante ressaltar que, para além dos ganhos metabólicos, os benefícios na esfera mental também são visíveis, como menor prevalência de sintomas depressivos, ansiosos, de abuso do álcool e de compulsão alimentar. Além disso, é possível concluir que a melhora clínica das comorbidades, redução do uso de medicamentos e melhora da qualidade de vida são significativos após operação bariátrica em pacientes mais velhos com perda de peso bem sucedida.

Portanto, note que a interferência em alguma atividade funcional está mais relacionada com o IMC do que com a idade. Com base nesta observação, quanto maior o IMC maior o benefício ao idoso depois da operação, deve-se focar no IMC elevado em vez da idade na indicação de tratamento cirúrgico em idosos.

Muitas vezes esse procedimento pode ser essencial para o idoso, fazendo com que ele, além de aumentar a expectativa de vida, aumente a qualidade de vida nesse trecho restante de sua jornada.